segunda-feira, setembro 11, 2006

Joaquim - Capitulo VI

Mais um capítulo nesta saga que já se tornou uma das melhores histórias escritas na internet, a meias, entre dois tipos que acreditam que a cientologia não devia ser uma religião nem ciência mas sim um clube de sueca. Já vai no sexto capítulo. O que faz pensar que você anda a perder muito na vida, não é?


Catarina coloca o Joaquim no chão, vira-se de costas e ouço a sua voz nu tom bastante irritadiço, como se falasse para dentro:
-Que merda de dia. Eu devia... – barafustava ela enquanto eu tentava vestir as calças à pressa. Tudo porque tentava esconder a enorme protuberância que se tornava cada vez mais evidente e proeminente ao nível da zona do baixo ventre.
-Devias o quê? – interpelava eu para ganhar uns segundos de distração, o suficiente para desviar o assunto e o olhar da Catarina do enorme inchaço que se tornava cada vez mais incómodo. Esta mulher deixava-me sempre louco de desejo, mesmo 4 anos depois sentia uma ligação e uma atracção física incontrolável.
Desesperado, para que as calças entrassem o mais rápido possível, atrapalhei-me e num gesto bizarro pisei uma das baínhas, ficando sem apoio sustentável e fui conhecer pessoalmente o chão de tacos da anfitriã. Bati violentamente com a cabeça no chão. O meu cérebro esquecera-se de passar a informação às mãos e pernas que se degladiavam entre si esquecendo-se de uma função básica na queda, conhecida como "amparar". Nesse instante, Catarina lança-se na minha direcção e num voo diabolicamente olímpico consegue amortecer a minha queda segurando-me um dos braços. Não o devia ter feito. Preferia ter marrado mesmo de frente ao chão do que assistir pessoalmente ao momento incómodo que se seguiu. Explica-se. No preciso momento em que ela segurou-me, senti a sua suave mão em contacto com a minha pele. Todo o meu corpo estremeceu numa questão de milésimos de segundo, lembrando-se do seu último e suave toque feminino quatro anos antes, exactamente pela mesma mão. Num silvo rápido e intenso, descontrolei-me e ejaculei abundantemente à medida que caía. Larguei um enorme grito, não de pânico mas de prazer e acabei estatelado no chão a ganir como um cão. Catarina aproximou-se:
-Meu Deus, estás bem?
Eu gemi mais duas vezes, completamente extasiado. Ela virou-me de costas e eu prontamente assumi uma posição fetal agarrando tudo aquilo que me fazia homem. Foram 4 anos contidos que agora desapareciam em poucos segundos garantindo-me um prazer inimaginável. Catarina, alheia a este facto, olha para a minha zona pélvica e dá um salto para trás, assustada. Leva as mãos à cara e grita desesperada ao ver que estava todo molhado:
-Meu Deus...que horror....esborrachaste os tomates!!!!!
-Mas...não...
-Temos de ir a um hospital...meu Deus.... – abriu a sua mala à procura do telemóvel – vou chamar o 112.
-Não...não... – um misto de prazer com dor provocavam-me um aperto nas cordas vocais impedindo um volume mais alto no tom de voz.
-Bolas, tenho de ir para a varanda que aqui não tenho rede.. – e começa a cheirar----snif...mas que cheiro é este? Parece que cheira a...– Passa por mim e desta vez demora mais tempo a olhar para este triste espectáculo enquanto eu permaneço com um sorriso estúpido na cara:
-Alfredo...tenho a sensação de que rebentaste mesmo os tintins... é que está aqui um cheiro a....
-Sim...eu estou bem...não foi nada. Isto acontece-me sempre que marro de frente com o chão da tua casa.
Catarina ainda fica quieta e em silêncio a tentar processar certas informações. Segundos depois, denoto que já descobriu o que se passa. Desliga a chamada e volta a guardar o telemóvel na mala:
-Bem, se calhar é melhor ires tomar um banho...
-Sim, é melhor – acedi eu enquanto me levantava de novo sem calças. Começo a andar em direcção à casa de banho quando me lembro do Joaquim:
-Onde é que raio está o caralho do gato? – Olhei para a varanda e vejo o meu casaco ganhar vida própria. Mexe-se no chão. Um vulto movimentava-se dentro do bolso do meu casaco. Suspirei de alívio. “Ah, está a tomar conta do material!”. Lembrava-me agora que ainda possuía uma arma e droga que tinha de ser despachada no final desse dia. Droga, uma palavra que me reavivara a história do bófia quando falara de uma suposta apreensão esta manhã. Poderia ser um achado e uma óptima fonte de rendimento se eu o tivesse seguido, quem sabe poderia descobrir o local da apreensão e conseguir sacar a droga primeiro. Ora aí está uma boa perspectiva de negócio. E sabendo que quando há uma apreensão significa de que existe quantidade....mas o que é que estás a pensar Alfredo? O homem já se foi. Esquece. Neste momento só precisas de um bom banho, convencer a Catarina a dar-te um tecto enquanto as coisas se acalmam e tu despachas o material. Tranquilo. Nada mais simples. Depois logo se vê.
Entrei na pequena casa de banho. Foi brindado com uma mistura de cheiros, aromas e sensações. Tudo com delicadeza e pureza femininas. Entra-se numa casa de banho de gajo, ele pode ter lá todos os cremes paneleiros e os perfumes mais caros do planeta, que o cheiro da urina da sanita ganha vida e sobrepõe-se a todos os outros. Tudo isto me fez lembrar a minha mãezinha que, sempre que lavava a casa de banho, vociferava: “merda para o caralho dos homens!”. Não por inveja de o fazermos de pé mas sim porque salpicamos sempre tudo. Aquela casa de banho não tem nada disso. Por existir outra casa de banho mais pequena para as visitas, esta aqui permanecia pura e limpa de homens. Aqui reina o cheiro de cremes, do gel, do shampo, da loção, do perfume, do sabonete, até a humidade do cortinado que cobre a banheira tem outro cheiro. E está tudo tão limpo que se fosse realizado o teste do algodão, concerteza que seria o responsável pela conspurcação do ambiente.
Um canto daquela divisão chamou-me a atenção. Totalmente fora do contexto deste arranjo celestial, de brilho e limpeza, uma pilha enorme de revistas e jornais rasgados ocupa um enorme espaço. Tirei a revista de cima e comecei a folhear. De repente cai uma folha solta, propositadamente arrancada. Tento ver com mais atenção e vejo metade de um anúncio de publicidade. Era de uma urbanização, mostravam-se plantas e imagens de tranquilidade e espaço. Não fazia sentido nenhum ela ter separado esta folha das restantes. Estaria a pensar mudar de casa? Mas para Almeirim, o local indicado naquele reclame? Foi então que decidi virar a página. Do outro lado encontrei uma folha de horóscopos. Voltei a colocar a folha dentro da revista e decidi tirar outra da pilha. Aconteceu exactamente o mesmo. Desprendeu-se uma folha, de um lado metade de uma reportagem sobre barcos, do outro uma folha de horoscopos.
-Bolas...claro, como é que não pensei nisto antes? – Falei em voz alta. Tal como já avisara, é sempre bom acordar a voz silenciosa que ouvimos por dentro. Catarina era fascinada por tudo o que evocava misticismo, astrologia e essas coisas do além para as quais eu fico aquém.
Senti um aperto nos intestinos e sentei-me na sanita. Puxei de uma revista e comecei a ler os horoscopos. Em comum, havia marcas e círculos à volta de “Aquário”. Não é preciso ser muito inteligente para deduzir que tinha encontrado o signo de Catarina. Decidi procurar o mais recente. Diz o dela:

“AQUÁRIO
Esta semana tudo tende a correr bem dada a sua inspiração para enfrentar os problemas e mal entendidos que podem surgir. No plano afectivo, a semana é promissora nos amores. Uma relação do passado surgirá na sua vida. Na saúde, influências negativas. Evite comportamentos que mais tarde podem ser fatais.”

Sorri com desdém a tanta coincidência. Decidi tirar tudo a limpo.
-Catarina? Catarina? – Gritei eu. Ela aproximou-se da porta da casa de banho.
-Não me venhas com a desculpa que precisas que te esfregue as costas.
-Não, nada disso. Olha...eu não sei como te perguntar isto...mas...
-Diz lá...
-Qual é o meu signo?
-És Sagitário.
-Bem, assim de repente. Com essa rapidez só posso assumir que tens a certeza.
-Acredita, eu sei bem qual é o teu signo. Os Sagitários são desastrados. Metem sempre o pé na argola e não sabem quando calar-se. Estão sempre à procura de novos horizontes, adoram aventuras e odeiam restrições na liberdade pessoal.
-Acho que sim....mas isso também pode ser qualquer pessoa.
-Mas porquê? Andas a ver as minhas revistas?
-Pois......que engraçado.
-Qual é a graça?
-Os nossos signos rimam. Aquário, Sagitário. Achas que é coincidência?
-Se calhar é o destino.
-Já cá faltava.
Nesse instante ouve-se a campainha da porta.
-Ó diacho.... Precisas de mais alguma coisa?
-Não.
-Então vou ver quem é... – foi a falar sozinha até à porta e eu decidi ler o meu próprio horoscópo para o tira-teimas. Percorri todos os signos à procura dele. Aqui está:

SAGITÁRIO
“Esta semana dará importantes passos na vida sentimental iniciando várias relações, uma nova e outra que é retomada. Os acontecimentos são marcados por uma lufada de ar fresco que torna a vida sentimental mais alegre. No plano económico, possibilidade de crise com redução de dividendos. Necessita de encontrar mais uma fonte de rendimentos.
Na saúde tenha especial atenção aos pés e na retenção de líquidos.”



Já não sorri. Ainda estava eu assustado com a coincidência quando começo a ouvir alguns gritos. Catarina aumenta o tom de voz para alguém. Levanto-me rapidamente, encosto a orelha à porta e tento ouvir alguma coisa. Nem precisava porque começo a ouvir vozes com maior intensidade. No início, as vozes misturam-se numa mescla imperceptível mas logo reconheço as vozes. O cabrão do bófia tinha voltado:
-Mas pensas que me enganas, ó badalhoca? – gritava o estafermo – Pensas que eu não percebo. Estive lá em baixo à espera durante meia-hora....
-Mas eu garanto que ele desceu.... pode ter saído pela porta das traseiras...
-Desde quando é que este prédio tem traseiras, porca de merda? – E de repente ouve-se um estalo. Catarina grita e eu não me contive. Borrei-me pelas pernas abaixo e os meus pés ficaram soterrados no almoço desse dia. Desconcertado por me encontrar naquela posição, tento vislumbrar uma saída enquanto a discussão na sala continua alto e a bom som:
-Vá, minha puta de merda, chama a bófia, vá. – ouvia estas palavras de forma entrecortada entre os salpicos da água. Nesse instante decidira que o melhor era lavar-me no bidé e tirar as partes maiores na banheira. Enquanto isso, Catarina continuava a ser alvo de um enxerto de porrada de um agente de autoridade – onde é que ele está, minha cabra? Ele ainda está aí, não é minha putéfia? Acabas um serviço e metes-te logo noutro, minha porca?
De repente, os gritos viram-se. No teatro violento daquela sala, ouço agora o bófia aos gritos. O enredo muda de figurino, as peças e os actores parecem agora assumir outros papéis. Catarina estava a dar luta, pensava eu. Ouvia encontrões aos móveis, jarros a partirem-se e no meio disto tudo distingui o “rosnar” de Joaquim. Vesti as calças, abri a porta devagar e tento agora ver o que se passa. Vejo a cara do bófia toda preta:
-Mas porque raio o bófia vem de barba postiça? – pensei eu. Mas logo percebo que a suposta “barba” é o incrível Joaquim agarrado com garras e dentes à cara do agente. O gato está todo maluco, encontra-se possuído por algo que eu desconheço. O bófia grita com dores lacinantes, o Joaquim não sai da cara dele, quase que a arranca com violência. Eu aproximo-me, pego numa cadeira e descarrego a energia cinética no lombo do bófia. Este cai estatelado no chão, totalmente inanimado ou morto, não sei. Catarina entretanto recompõe-se, vem ofegante, abraça-me durante uns segundos. Ficamos ali, agarrados um ao outro, num ambiente romântico até que me diz:
-Cheira a cócó.
-Hum...eh...é dele – apontei para o bófia que se encontrava deitado de barriga para cima.
-Achas que se borrou?
-Eh....É comum isto acontecer. Ouvi falar de um caso semelhante em Cinfães, no ano passado. Normalmente, as pessoas com personalidade mais violenta têm os intestinos mais cheios de gases e soltam-se com mais facilidade. Deve ter sido quando lhe dei com a cadeira nas costas, o impacto deve ter pressionado as vértebras e, vai daí, este cheiro.
-Achas que está morto?
-Pelo cheiro, sim, ah aha ahh – ri-me a bandeiras despregadas.
-A sério, Alfredo. Ele pode estar morto. Não podemos ter um polícia morto dentro de casa. E fizémos tanto barulho que alguém pode ter chamado a polícia.
-Ei, onde é que está o Joaquim? – Olhei em redor e fui encontrar novamente um pequeno vulto a movimentar-se debaixo do casaco – Joaquim? Anda cá. – O raio do gato parou. Lentamente começa a andar debaixo do meu casado e sai - Foda-se, Joaquim! Que merda é esta?
O gato vinha com o focinho branco e num ápice começou a correr de um lado para o outro. Fui buscar o meu casaco, levei a mão ao bolso e contabilizei apenas 8 sacos. A mão quando saiu veio totalmente branca.
-Alfredo? – Catarina levou as mãos à cara assustada – Diz-me que isso não é o que eu penso que é.
-Isto? Isto o quê?
-Isso é droga, não é?
-Droga? Que disparate! É um pó para o estômago, um antiácido – Entretanto o Joaquim andava em grande azafama. Corria, parava repentinamente, voltava a correr, parava novamente, miava ligeiro como se cantasse e, do nada, voltava a correr a grande velocidade – É claro que pode ser considerado uma droga, no sentido de "medicamento", mas droga no sentido de droga? Que coisa mais disparatada.
-Meu Deus, Alfredo. É mesmo droga – Catarina aproximou-se e retirara uma unha - E da boa.
-Bom, nesse caso é mesmo droga. Mas não te posso deixar cá uma grama gratuita. Já estou a ver que o caralho do gato está a estragar-me o negócio.
-Estragar? És tão mitra. Se não fosse ele, não estaria viva agora.
-Ena, para quem era superticiosa....nada mal para um gato preto que em cinco minutos já se cruzou várias vezes no teu caminho.
-Por acaso reparaste quantas vezes ele passou? Era número par ou ímpar?
-Catarina, relaxa. Agora temos de pensar numa forma de nos livrarmos deste tipo.
-E como é que achas que....
Catarina não conseguira pronunciar o resto da frase. Foram as suas últimas palavras. Decerto que ela pensara nas suas últimas e estão não estariam na shortlist. Perante a nossa distracção, o polícia recuperara minimamente os sentidos e embora deitado, e à traição, conseguira sacar da arma. Disparou dois tiros mortais. Catarina, com o impulso das balas cravadas nas suas costas, deixa-se cair. O tempo parou quando vejo o corpo daquela mulher desfalecer. Oiço de novo outro disparo e o corpo de Catarina sucumbe ao impacto. Tenho o corpo daquela mulher nos meus braços e quando olho para o bófia, percebo que ele recupera as forças para mais um disparo. Levanta o cano e vem na minha direcção. Num dos seus repentes, Joaquim passa à frente do homem e um pequeno toque no seu braço faz desviar bala que zumbe nos meus ouvidos. Quando volto a abrir os olhos, tomo consciência que o desvio de Joaquim salvou-me a vida. Lá fora, e para compor o ramalhete, oiço a aproximação das sirenes da polícia. Vários carros foram chamados ao local e nem preciso pensar muito que estou no sítio errado, à hora errada. Não conseguirei explicar nada disto, tenho cadastro e o polícia mantém-se vivo para desmentir qualquer história que possa dar como verdadeira. Por sorte, o polícia já não tem forças para levantar de novo a arma. Agarro no casaco, saco um pacotinho de pó e começo a chamar pelo bichano. Atraído pelo isco, Joaquim aproxima-se de mansinho, começa a ronronar e eu aproveito para o meter dentro do bolso: “Já me safaste muitas vezes, Joaquim”.
Quando estou a sair do apartamento oiço passos apressados subirem as escadas do prédio. Comecei a pensar nas alternativas de escape: não posso sair pelas escadas, não posso ficar em casa, não posso sair por onde entrei. Olho em frente e toco à campainha do vizinho. Ninguém abre a porta. Os passos dos polícias aumentam de intensidade, estão cada vez mais próximos. Volto a tocar com mais força, os polícias estão no patamar de baixo quando oiço uma voz de dentro de casa perguntar quem é. Eu respondo:
-É a polícia! Abra a porta.
-A polícia? Mas que raio... – o velho não terminou a frase. Já estava com o cano da minha arma entre os dentes mal abriu a porta.
-Para dentro, vá. – E a verdadeira polícia chega ao piso no preciso instante em que fecho a porta atrás de mim. Apontei a arma ao velho e fiz sinal para se manter calado.
-Caludinha - murmurei baixinho – você vive sozinho? - Ele anuiu com a cabeça – Pouco barulho senão temos o caldo entornado.
Fiquei com a cabeça encostada à porta para ver se percebia alguma coisa do que se passava. Contei uma meia dúzia de agentes. Mas mal descobrissem o cadáver de Catarina, seria um ninho de polícias e agentes da Judiciária. Ouvi um dos bófias dar instruções a um outro. Ouvi claramente a palavra “vizinhos”. Iriam concerteza falar com todos os inquilinos, incluindo este.
-Oiça, avô. Há duas formas de fazer isto. A bem ou a mal. Como é que vai ser? – O velho fitou-me nervoso. Nesse instante, batem com estrondo à porta.
-Polícia! Está alguém em casa? Abra a porta! - batem violentamente na porta, não será chuva nem será gente - Polícia! - voltaram a gritar do lado de fora - Abra a porta!

quinta-feira, agosto 24, 2006

Joaquim - Capítulo IV

Atenção: tal como se encontra identificado em título, esta história já vai no seu quarto capítulo e é uma história partilhada entre dois dos maiores escritores da linha que liga Sacavém a Algés. O capítulo anterior encontra-se mais abaixo.


Em menos de três tempos, o que se deduz portanto em dois, consegui escapar ileso apesar do peso do arsenal que carregava nos bolsos. Num dos últimos saltos entre telhados, o meu pé resvalou e soltou-se uma telha. Escancarou-se no chão, poderia ter desferido um golpe fatal em algum traseunte, daqueles que decide passear-se às tantas da madrugada com um cão, talvez. Nem por sombras, mal eu pensara no tal bicho e outro bicho, Joaquim, miara em sinal de desagrado.
Chegando a chão firme, as minhas pernas tremiam como varas verdes. Antigamente, andar por telhados davam-me a sensação de ser um qualquer super-heroi, sem capa; mas a idade não perdoa. As rótulas não são as mesmas, os joelhos já não se dão bem com os meniscos e a merda do colesterol anda a fazer amizade com o ácido úrico. Por outras palavras estou a ficar velho para tanto alpinismo urbano. Estou a sentir o peso dos anos, o peso das pernas, o peso da barriga, um peso na consciência e um peso nos ombros. Junte-se a tudo isto o peso do que trazia nos bolsos e vê-se logo que não ando bem.
Tenho que encontrar guarida mas não pode ser em casa desconhecida. Preciso de um tecto familiar, estou necessitado de carinho, de atenção de o calor de um aquecedor, de uma manta ou de uma colcha. Bolas, o que é que eu estou para aqui a dizer, estou a precisar dum rabo gelado de uma gaja.
A noite avançava enquanto a minha mente deambulava e procurava uma solução para o meu abrigo. “Pois, vai ter de ser. Não tenho alternativa, ainda por cima não estou muito longe”. Falei em voz alta. De vez em quando faz bem para não me esquecer de que existem cordas vocais, porque estou cansado de falar comigo mesmo, sempre para dentro. A minha mãe sempre me dizia que “quando falas para dentro só falas sozinho e ninguém te ouve”. Uma mulher inteligente embora abussasse das redundâncias, o que fazia dela uma mulher sempre certeira nos comentários, nunca se enganava naquilo que tinha para dizer porque dizia sempre o mesmo.
Quem procurava eu? Catarina, a única mulher que realmente amara e que sentia por mim algo que nunca compreendi. Não sei se era mesmo ódio. Amor não era porque tirando as sessões de sexo conveniente e que ambos os corpos pediam, não havia mais nada entre nós. A não ser uma ligação factual, algo que ela descrevia como “se calhar é o destino.” Nunca percebi essa coisa do destino. “O destino é algo que não controlamos mas que define todos os nossos passos”, dizia ela. “Quem define os meus passos sou eu, não essa coisa do destino. Estás a ver alguns cordéis pendurados nos meus braços. Olha bem, achas que sou alguma marioneta?”. Ela encolhia os ombros e sorria como se eu não entendesse o que ela dizia. O que era verdade. Mas talvez tivesse chegado a hora do destino bater-lhe à porta.
Enquanto caminhava pensava na melhor forma da surpreender. Como se bater à porta de alguém às 3:30 da madrugada, não fosse surpresa suficiente. Mas depois de quatro ou cinco anos sem dar notícias, tinha de preparar algo mais elaborado.
Catarina lutara toda a noite contra uma terrível insónia. E que lhe ganhara aos pontos. A luta tinha sido tão desigual que Catarina só encontrou uma forma de descansar. Entra na casa de banho e limita-se a preparar um banho de imersão, convencida de que a noite poderia aparecer-lhe mais cedo nos lençóis. Despe-se e vemos as linhas do seu corpo, algo que deixaria uma jovem de vinte e poucos anos mergulhada em inveja e vergonha. Quarenta e quatro anos não deixaram marcas na silhueta de Catarina; é incrível como se consegue ter um corpo tão escultural sem correr em tapetes nem recorrer a cremes.
Catarina olha para o seu corpo. De uma maneira diferente, claro. Ela percorre todos poros da pele com grande detalhe à procura de defeitos, de um pêlo encravdo, de um sinal problemático, de algo com que se possa afligir porque ser mulher é assim. Não encontra nada de errado e decide mesmo assim marcar uma consulta no oftalmologista porque o problema pode estar na visão. Antes de mergulhar, coloca o mais genial e apurado termómetro criado pela Humanidade, a mão. E quando se prepara para levantar a perna e arrastar o resto do corpo para dentro da banheira, ouve-se a campainha tocar. A estas horas?, ouvimos o seu pensamento. Por amor de Deus, são quase 4 da manhã, devem ser alguns gaiatos a brincarem com as campainhas tal como eu fizera na idade deles. Mas o som da campainha ouviu-se mais uma vez e com maior intensidade. Catarina veste um roupão e decide abrir a porta. Do outro lado estou eu, a suar em bica pela corrida que fiz ao subir oito lanços de escadas.
-Quando é que mudas para uma casa com elevador? – perguntava-lhe eu, respirando golfadas de ar inspiradas com grande violência.
-Alfredo? – fechou melhor o roupão apertando-o com um nó – Alfredo?
-Não gastes tanto o meu nome. Não me vais convidar para entrar?
-Ehhh.....desculpa, entra, entra. – Fecha-se a porta atrás de mim – Mas o que é que fazes acordado a estas horas? E o que fazes aqui? Espera, não me digas que estás metido outra vez em problemas?
-Não, nada disso. – E quando me ponho mais à vontade, tiro o Joaquim do bolso do casaco – desculpa, mas ele pode andar pelo chão? Prometo que não estraga nada.
-Alfredo, sabes o que sinto com gatos pretos.
-Ah, é verdade, tinha-me esquecido como és surpesticiosa, acreditas que tudo te dá azar....
-Não, não digas essa palavra. – E de imediato lançou-se até a uma estante de livros, em madeira onde bateu três vezes, com uma cadência e ritmo que demostravam bastante praticidade – Diz antes falta de sorte!
-Não te preocupes. Podes estar descansada. Estava de passagem aqui na zona.
-Às quatro da manhã?
-Sim, para te ver nunca há horas certas. Como antigamente.
-Isso já foi há muito tempo. Tiveste preso entretanto?
-Preso, não que disparate, porque é que dizes isso?
-Porque não soube nada de ti durante 4 anos.
-Ah, pois.... não,....estive no Luxemburgo, a trabalhar.
-A sério? E onde?
-Onde? – Bolas, estou a sentir-me entalado – Numa cidade grande do Luxemburgo.
-Na cidade do Luxemburgo?
-Sim, essa.
-E que lingua falam no Luxemburgo?
-Bom, então falam numa lingua estrangeira.
-Mas não sabes?
-Então, se eu não sei falar nenhuma língua como queres que saiba que língua eles falam lá? Bolas, mas agora és minha mulher? Estive por lá, depois fui para França e cheguei a semana passada.
-E estás a viver onde?
-Ainda não tenho nada. Já estive a ver aí umas casas mas o Joaquim não gostou de nenhuma delas.
-Ah. Queres alguma coisa para comer? Posso-te fazer qualquer coisa. Mas tenho aqui camarões tigre que posso grelhar.
-Tsss, até comia alguma coisinha mas sabes o que me apetecia antes disso?- E aproximei-me dela lentamente, as minhas mãos tentaram acercar-se da sua cintura. Ela deu dois passos para trás e perguntou timidamente:
-O quê?
-Um banho- respondia eu.
-Olha, nem de propósito. Estava agora mesmo para ir tomar um. E estava a pensar que podías juntar-te a mim e depois quem sabe, fazíamos amor até de madrugada. Penetravas-me durante horas e encavas o teu grosso falo dentro de mim para que eu pudesse explodir de prazer e depois satisfazer-te como nunca ninguém fez.
Pronto, está tudo estragado. Fui interrompido por uma unhada afiada de Joaquim. Continuava dentro do meu bolso, de onde nunca tinha saído e demonstrava assim o seu desconforto aos sobressaltos dos meus passos rápidos. “Tu só pensas em merda, Alfredo”, acalma-te aí. O caralho leva-te para terrenos pantanosos. Perdes-te no meio da imaginação e estás agora perdido no meio das ruas. Precisas de te acalmar. Descansa.
Finalmente os teus olhos descobrem o prédio. Numa zona pacata, iluminada deficientemente e aparentemente sou o único ser vivo de duas patas que vejo. Olhei para a janela dela e vejo uma luz acesa. A estas horas?, pensei eu. Olhei em redor e percebi que tinha hipóteses de fazer fazer uma entrada espectacular evitando a porta da frente. Joaquim rosnou baixinho, já me lê os pensamentos este cabrão. Sabe perfeitamente que vamos fazer uma entrada à mitra, não pela porta da frente mas pela janela da frente.
Subi para um tejadilho de um carro, pulei para cima de uma carrinha de transportes que estava milagrosamente estacionada junto a uma árvore. Segurei-me a um tronco e a hérnia discal queixou-se mal comecei com o número do macaquinho. Com algum esforço consegui chegar a uma varanda. O apartamento de Catarina ficava a apenas dois pisos acima. Apoiando-me nos varandis, subi até a um dos benditos aparelhos de ar condicionado fixado no exterior de uma janela conseguindo facilmente chegar à varanda do andar de cima. Mas agora a tarefa apresentava-se mais dificil. Após um rápido mas cuidado estudo vi, não uma janela de oprtunidade, mas sim uma possibilidade. Voltei-me a apoiar nos varadins, e à falta de electrodomésticos, percebi que o resto do percurso teria de ser feito à moda antiga, trepando pelo tubo de esgoto dos algerozes. Mas não demorou muito tempo para descobrir que o tubo não aguentaria tanta alavancagem. Só havia uma hipótese, a última, a derradeira, aquela que salva barcos do afundamento e aviões de quedas. Para largar lastro tirei Joaquim do bolso: “Não te preocupes que tens 9 vidas, tens até de sobra. Se caires, aterra sempre de pé”. Ele ainda miou, não até ao fim porque a essa hora, ainda o miar estava a meio e Joaquim voava. Confiei na minha capacidade de pontaria, cheguei-me para trás o máximo que conseguia e lancei o gato até à varanda de cima.
Esta foi o primeiro grande teste para ele. Manteve intocável o registo das 9 vidas ao conseguir aterrar suavemente no alvo pretendido. Ouvi um miar ligeiro, sinal de que estava vivo e que a costa estava desimpedida.
Tirei o casaco, voltei a conferir que a arma e a droga mantinham-se nos bolsos e utilizei a mesma técnica para lançar o casaco. Continuei a despir-me até ficar só em cuecas. Atei as peças de roupa umas ás outras fazendo um enorme bola, fácil de ser atirada e com peso suficiente para que respondesse eficazmente à trajectória desejada e a uma força determinada.
-Psttt. Joaquim, tudo em ordem?
Ouvi novamente o gato miar. Era sinal de que a encomenda tinha chegado ao destino e lancei-me de novo ao tubo dos esgotos dos algerozes. Sem peso nenhum no corpo a não ser da gordura acumulada, consegui subir até à varanda. Já sabemos que as luzes estão acessas. Como vim a descobrir mais tarde é apenas a luz de um candeeiro de parede que parece ter ficado ligada propositadamente durante a noite. Ninguém está na sala mas julgo ouvir vozes bem ao fundo. Porventura a televisão está ligada já que ouço distintamente uma voz masculina. A porta da varanda está aberta, Esta Catarina não se enxerga, lá porque vive num quarto andar acha que ninguém vai assaltar-lhe a casa, pensava eu no instante em que sou assaltado por algo que vira naquele instante. Assaltado é mesmo a palavra indicada. Em cima de uma mesa, cuidadosamente depositado, encontrava-se o chapéu de um bófia. Foda-se, dei um pulo para trás e inadvertidamente pisei o Joaquim que guinchou como se fosse um gato de 2 anos. Estava eu a pensar no que fazer à minha vida quando dois vultos surgem mesmo ao meu lado. Um deles reconheci de imediato. Catarina continuava linda como sempre mas o que faz aqui um caralho de um bófia?
-Catarina – falou o chuleco – importavas de me explicar quem é o senhor que se apresenta praticamente nu na tua varanda? Algum dos teus clientes que se esqueceu da roupa?

segunda-feira, agosto 14, 2006

Joaquim- Capítulo II

Importante: aqui forma-se um enredo partilhado entre duas pessoas. O capítulo anterior encontra-se mais abaixo.


Capítulo II

Livrei-me da televisão de 30 cm. Na verdade, troquei-a por um maço de tabaco à saída de casa. Quando digo “saída”, funciona como uma pequena transferência de residência.
A segunda casa que encontrei é bem mais humilde que a primeira, o que no ramo da gatunagem significa que há muito menos coisas para deitar a mão. Mas tem espaço e algum cachet o que é óptimo. O Joaquim também deu o seu aval.
Estas casas também funcionam como um centro comercial para mim. Há sempre comida – graças a Deus que os tugas têm sempre comida em casa – roupa, calçado e televisão. Cedo descobri que não sou o único ladrão da casa. Quem habita nela tem uma box descodificada, com todos os canais disponíveis. Como é que eu sei? Bom, quando estive a abrir a correspondência – vocês nem imaginam a quantidade de cheques que se encontram nas correspondências – reparei que o seu proprietário apenas paga o serviço base. Melhor para mim que futebol e sexo misturam-se ao sabor da bebida que se vai descobrindo nesta casa.
Como devem perceber tudo o que preciso vou arranjando. Comida e vestuário não é problema, entretenimento também se arranja e a minha segurança é feita pela protecção de uma pequena arma de 9 mm.
O que é que faz um pequeno assaltante de casas, necessitar de uma arma de protecção? Porventura julgareis que devido à minha actividade mas este é um ramo onde armas de fogo são desnecessárias. Funcionamos melhor com clips para fechaduras, no engenho das fechaduras e nos casos mais dramáticos nada que um pé-de-cabra não resolva. Pois, mas esquecem-se de que estou dedicado ao pequeno tráfico. O negócio ía tão mal que tive que me virar para terrenos desconhecidos. Entrei na droga. Não no consumo mas no gamanço. O esquema era simples: ver quem era o dealer na zona, dar-lhe um enxerto de porrada, ficar com o produto e vender a cena a um preço mais vantajoso. Pensei eu que era assim que se fazia. Vim a descobrir que não.
A parte do dealer foi fácil, fazer a festa também, ficar com o produto foi apenas uma consequência. O problema surgiu no instante em que fiquei com a branca na mão. Não fazia a mínima ideia do que fazer. E dei por mim com 9 doses individuais na mão e com o Jolas à perna.
O Jolas, alcunha para um tipo franzino que fazia todas as suas refeições à base de imperiais, era apenas e só o grande lobo que controlava a alcateia de dealers da zona. E já se sabe que estas organizações têm sempre uma hierarquia. O dealer, mesmo com a cremalheira em estado deficiente, queixou-se à patente mais alta e de repente já o Jolas queria saber quem era o atrevido que entrara para arruinar o negócio.
Tornei-me um dos tipos mais procurados da zona. Não pela polícia mas de todos aqueles que trabalhavam para o Jolas. Não era uma questão de droga. Apesar de ser dinheiro era também uma questão de honra e de orgulho. Nada. Mas mesmo nada podia interferir na zona do Jolas. Uma zona em total sossego, com a polícia controlada e e não era eu que ía estragar a festa. Eu precisava de ser encontrado e chamado à razão, talvez com um tiro na cabeça. Fez-me lembrar uma discussão entre o Asterix e o Obelix, numa das alturas em que eu lia livros, “Obelix, em relação aos romanos, bates primeiro depois fazes as perguntas.”. Acho que comigo a questão era disparar primeiro, a parte das perguntas é dispensável. Já não estava escondido, agora sentia-me preso nesta casa. Os passos na rua teriam de ser bem medidos. Mais urgente ainda, precisava de mudar de poiso, outra zona, mais segura.
Procurei roupa no armário. Desta vez escolhi umas calças de fazenda cinzentas, uma camisa com umas riscas fininhas azuis, um casaco cinzento. Quanto aos sapatos, bastava dar uma esfrega nos meus. Se as roupas assentavam como uma luva, tive azar nos sapatos já que o dono da casa só calçava números barbatana. Fiz a barba com uma lâmina nova, usei o desodorizante do homem e, como não podemos armar-nos em esquisitos, acabei por lavar os dentes com uma das duas escovas que encontrei. Quando olhei para o espelho fiquei impressionado com o meu novo visual. O Joaquim não ficou surpreendido com a mudança. Os animais são assim, conhecem o dono à distância, estejam eles a cheirar a cavalo ou ao melhor perfume francês.
Desci até à sala e quando olhei pela janela vi a noite cair apressadamente. Esta seria a minha última noite nesta casa e decidi fazer uma pequena festa de despedida. Encontrei na cave algumas garrafas de vinho. O conhecimento que tenho de vinhos é equivalente ao conhecimento que possuo de Física Quântica. Mas compenso a nulidade com a experiência. E essa diz-me que o melhor vinho deve ser aquele que tem mais pó na garrafa. Normalmente guarda-se o melhor vinho para a melhor ocasião. Para mim ela tinha chegado com a minha eminente partida. Em segundos as minhas opções ficaram limitadas a três garrafas e como a virtude está no meio trouxe a que se encontrava mais ao centro. Voltei a subir.
Diriji-me então até ao frigorífico, tirei um saco de camarões pequenos do congelador, cozi esparguete, abri a garrafa, liguei o canal de música clássica e preparei-me para o festim. Eu à mesa com o esparguete, o Joaquim no sofá deliciado com os seus camarões. Tinha a impressão que em cada dentada olhava para mim, agradecido. Não tocou no vinho. Fica mais para mim.
Quando acabei a refeição, meti as doses de droga no bolso do casaco, guardei a arma no bolso de dentro e peguei no Joaquim.
-Ena, estás a ficar gordo. E a crescer depressa.
Levantei-o no ar. Ele miou baixinho. Não estava a achar piada nenhuma à altura. Voltei a baixá-lo e ele começou o ronronar. Juntei-o ao meu peito. E estava eu concentrado neste momento de carinho quando oiço um carro estacionar. A minha experiência em casas, fez-me escolher esta por uma razão muito simples: ausência de vizinhos numa zona muito tranquila. Portanto, visitas inesperadas a estas horas não era um sinal muito animador.
Aproximei-me da janela e ao espreitar vejo 4 homens sairem do carro, olham suspeitos para todos os lados e depois para a casa. A casa está fechada, portanto às escuras. Eles aproximam-se da porta, dois deles levam a mão ao bolso do casaco e não me parece que estejam à procura das chaves. Também não me parecem os donos da casa. Pelas fotos que encontrei em toda a casa, são um casal de velhos, estrangeiros. É altura de me pôr a milhas.
A vantagem que um assaltante de casas tem em relação a uns meros deliquentes é a que os primeiros conhecem os cantos à casa, sabem por onde entrar, como sair, onde esconder. Conhecemos as paredes das casas como se fossem nossas, sabemos caminhar nelas às escuras porque é assim que trabalhamos. A nossa visão é constantemente noturna, não precisamos daqueles instrumentos de precisão e visão que agora os militares usam. É como se tivéssemos sido nós a projectar a casa, a fazer as suas paredes, degraus, a sua arquitectura e decoração. Todos sabemos que dentro de uma casa, só se ligam as luzes das divisões que não têm saída para o exterior. Um assaltante de casas deixa sempre uma porta aberta, uma saída fácil sempre que as coisas tornam-se difíceis. É tudo isto que nos distingue de uns deliquentes que só sabem carregar num gatilho. Conseguimos ser arquitectos, cientistas e malabaristas num só.
A minha saída estava numa janela de sotão que dava acesso a um pequeno parapeito. Através daí bastava um pulo até a uma placa superior que abrigava a porta das traseiras. E depois bastava um salto de 2 metros e meio até ao chão.
É óbvio que foi assim fácil. Estavam 4 putos à minha procura naquela casa – a questão está em como conseguiram essa informação – e eu já estava longe, bem longe. Sentia o meu coração aos pulos, à medida que caminhava apressadamente pelas ruas vazias. No bolso de dentro do casaco, sentia o ronronar do Joaquim no meu peito. No segundo bolso do casaco, 9 pacotes de pó. No bolso das calças, uma arma de fogo de 9 mm.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Joaquim

Capítulo I

Não devia ter feito aquilo, pensava. E ainda por cima por uma ninharia que rapidamente desapareceria da face da carteira. Por apenas 500 euros...teria valido o esforço? Eh, que se lixe. Não será a primeira vez que assaltava uma loja para depois arrepender-me no segundo seguinte. Havia qualquer coisa, para além do dinheiro, que me atraía no facto de assaltar lojas e casas. Há quem fale em adrenalina. Pode ser. Mas o dinheiro dá-me mais jeito.
Enquanto passeava por estas imagens, a minha mão passeava pelo Joaquim. Um gato preto que acolhera há algumas semanas. Era a minha única companhia. O meu coração batia lentamente, misturando-se com o ritmo descompensado do felino que ronronava junto do meu peito.
Afagava o Joaquim, o gato preto que um dia apanhara da rua. Se para muitos o gato preto é sinal de maldição e perdição, para mim foi a salvação. Um dia de sorte.
As coisas na altura não me corriam lá muito bem – pensando bem tal como agora – e por uma sorte tremenda, a polícia não me apanhara. O Joaquim, incógnito, desconhecido na altura embora um ser vivo e existente, salvara-me a pele sem o saber. Para o compensar, achei justo levá-lo para casa. Não nasci para ter gatos, cães ou periquitos. Sou mais do género de atirar a matar se um destes bichos me chateia a cabeça. Confesso que o meu limite de paciência chegou uma vez aos incríveis 30 segundos. A partir daí tudo resolve-se com uma bala. E não se fala mais nisso.
Voltando. Nesse dia, depois de um pequeno assalto a uma loja de bairro, fui eu assaltado em minha casa por um bando de polícias. Alguém dera com a língua nos dentes, e eu, rapaz para não gostar de traições. Seria parvo se depois do assalto desse dia fosse descansado para casa. Se a polícia estava à espera de me ver deitado no sofá a ver televisão logo após um serviço, então são bem mais estúpidos do que alguma vez imaginara. Não, eu estava a vários quilómetros de distância, numa pequena garagem que para além de me dar guarida e refúgio nos momentos pós-gatunagem, era o meu armazém de artigos "emprestados". O negócio não ia bem, roubar já não é o que era.
Mas mal sabia eu que a polícia, para além de descobrir a minha casa, conseguiu obter que a levaram até ao meu barraco. Fiquei a saber disso no momento em que descarregava uma televisão de plasma para o dito armazém quando, e acreditem que eu não acredito nestas coisas, senti que algo não estava a correr bem. Senti-lhes o cheiro à distância. Não sei se era das nódoas de imperiais ou dos dedos oleados em tremoço, mas há um um cheiro característico de polícia que os denuncia a quilómetros.
Caguei para a televisão. Assustado, como se o cheiro do bófia me tivesse explodido nas narinas, deixo cair a televisão de plasma em cima do pé. A custo começo a correr. Fico com a certeza de perder o fruto do trabalho e com a estranha sensação de ter perdido também o pé. A minha súbita fuga passa a ser de corrida desenfreada para uma pressa ligeira. A polícia já me cheirou e começa, de arma e punho a correr atrás de mim. “Pára caralho! Polícia!”. Ok, eu não sou parvo, muito menos surdo. Nem percebo porque é que se fazem anunciar. Ei, vocês já se esqueceram de que eu sou o gatuno, não preciso que me digam que são o polícia. Mas estamos aqui a brincar ou a fazer isto a sério?
Corria com uma perna, coxeava com a outra. Obviamente, nesta luta de pernas quem ganhava eram os dois gordos que corriam atrás de mim. Já não anunciavam a sua chegada com a voz mas sim através de balas. Eu não fui à tropa e muito menos a uma guerra. Mas não precisava disso para saber o que era um silvo a passar nas minhas orelhas.
Correndo em terreno conhecido consegui ir entrando e saindo de vários armazéns num labirinto de portas, estantes, armários, lixo. A polícia continuava atrás de mim. O meu pé entretanto falou com o meu cérebro e o meu corpo na resposta decidiu parar. O meu pé inchava e quase explodia dentro do meu ténis. Ainda bem que eu gosto de abotoar bem os sapatos, porque acho que o meu pé estaria esta hora a latejar cá fora e a suplicar um sacrifício. Sem alternativa, só tive hipótese de me agachar e esconder atrás de uma secretária. O buraco por debaixo do tampo passou a ser o meu novo esconderijo. E durante alguns segundos, só ouvia o bater do meu coração. Mas no sítio errado. Não batia no meu peito; latejava no meu pé. Entretanto a porta abrira-se com um grande estrondo:
-Ei...sabemos que estás aqui dentro.
-Sim, podes fugir mas não te podes esconder.
-Gostei dessa linha de texto. Onde é que tu ouviste isso?
-Eh, acho que foi numa capa de um disco lá do meu filho...
-Ah...por instantes pensei que fosses dizer que tinhas lido num livro.
-Ei.calma aí..Livros? Livros só escolares
-Ou de gajas. Nesses também se aprende.
-Noutro dia fui com o meu mais novo até ao hipermercado e comprei “manuais escolares”.
-Pois é, hoje em dia ninguém diz “livros escolares”. - E subitamente gritou mais alto - Ei, aparece, nós sabemos que estás aqui. Mas com calminha.
-Vamos contar até três?
-Não. - deixo de ouvir os seus passos, tenho a certeza que pararam, embora continuem a falar - Mas também, não percebo porque é que mudam os nomes. Podiam-lhe chamar “Livros para a escola”.
-Pois podiam, mas repara que “Manuais” tem mais a ver com o ensino, com o facto de aprenderes.
-Não percebo porquê.
-Tu compras um DVD, um electrodoméstico, uma varinha mágica ou uma máquina de barbear. O que é que aquilo traz em comum?
-Um fio para ligar à corrente?
-Além disso. Vem com um manual de instruções. Um manual serve para te ensinar. Para aprenderes a usar. Logo a escola, sendo uma máquina confusa, também traz um manual.
-Mas seguindo esse raciocínio também deveria trazer uma “Garantia”.
-Garantia?
-Pois, caso as coisas corressem mal durante 24 meses, podíamos chegar lá e dizer: “ó amigo, troque-me lá esta Matemática que isto não pega de jeito nenhum!”
-Tens razão, mas..
De repente um enorme ruído veio interromper a conversa destes homens. Eu não fui responsável por ele, já que continuava quedo. Uma enorme placa teria deslizado sozinha e caído com estrondo. Os polícias decidiram então ir verificar a causa do barulho. E como estava bem perto de mim, a probabilidade de ser encontrado era grande. Desta vez decidiram falar mais baixo mas deu para perceber que iam dividir-se, cada um deles ficava responsável por uma parte do armazém.
Eu continuei agachado, na esperança de não dar nas vistas. O pé doía-me cada vez mais. Não tinha qualquer possibilidade de fuga, a porta de entrada era a única hipótese mas se me levantasse seria um alvo fácil. Ainda por cima com o pé neste estado. A coisa estava preta. Tão preta que quando levanto os olhos vejo um pequeno gato preto à minha frente. Olhava para mim como se eu fosse o primeiro humano que via. E quando se preparava para miar eu fiz-lhe um pequeno sinal para se calar. E ele parou. Olhando mais para a frente consigo ver outro gato, bem maior. Possivelmente a mãe. E depois percebi que eram eles os causadores do barulho, já que o seu refúgio estava bem próximo de mim.
Oiço os passos de um, ele aproxima-se lentamente, em poucos segundos e estaria pronto a encostar-me a arma à cabeça. Mas é nesse instante que a gata se apercebesse da chegada do forasteiro, e num movimento felino nunca visto, salta para cima do polícia. Este assustado começa aos berros, o colega rapidamente se aproxima e conseguem enxutar a gata.
-Fosga-se, Joaquim, foste atacado por um gato.
-Obrigadinho por descreveres a situação. Pelo miar e pelas garras, por instantes pensava que estava a ser trucidado por uma torradeira gigante com tenazes de santola ....merda... estou todo arranhado. Olha para esta merda.
-Xiii...foda-se, o gato rasgou-te as calças todas, e agora?
-Agora, quem é que paga esta merda? Sou eu, isto vai-me sair do pêlo. Odeio gatos, ainda por cima pretos. Dão azar a um tipo, vê-se porquê.
Um rádio começa a cuspir sons.
-Alpha Tango 505. Por favor, indiquem a vossa localização.
-Daqui, Alpha Tango 505. Estamos numa perseguição a um suspeito de assalto a uma loja. Neste momento estamos junto à EN 435, numa área de armazéns ilegais, over.
-Localizaram o suspeito, over?
-Ainda não, apenas localizámos o armazém que serve de abrigo a todos os objectos roubados, over.
-Bom, precisamos de apoio policial junto da EN 342 que fica junto de vocês, over.
-Abandonamos o local, então, over?
-Sim, alguém da Central foi destacado para o local onde se encontram, over.
-Over, roger, tango, alpha, falcon and out.
-Pelos vistos, estamos despachados daqui.
-É melhor assim, já estava farto disto e o bacano já deve estar a milhas daqui. Mas antes de irmos, empresta-me aí a tua arma para dar um tiro no gato.
-Ei, porque é que não usas a tua?
-Foda-se, nunca ajudas um gajo...
E assim, sem mais nem menos foram-se embora. Passados alguns minutos volto a ver o gato pequenino, a olhar novamente para mim. Levanto-me da secretária e fico a olhar para o bicho, ele que me deita um olhar ternurento, carinhoso. Tem de ser meu. Decidi levá-lo. O problema foi convencer a mãe. Mal eu me levanto, ela atirou-se em voo na minha direcção. O meu primeiro impulso foi puxar a perna para trás e quando ela vem lançada, consigo dar-lhe um pontapé de tal forma que vejo a gata voar, bater na parede e ficar imóvel. Mas se a gata não ficou bem eu fiquei ainda pior porque o grito que dei de dor lancinante revelava que o pé escolhido tinha sido o que me doía. Fiquei ali uma valente hora a penar, em dores. O gato pequenino preto rondava-me, miava, ronronava. Já não tinha mãe, arranjara uma nova. Vou levar-te. Um gato preto que me dera sorte. O nome? Joaquim, em honra ao polícia que a tua mãe rasgou.
Semanas depois, aqui estou eu, com ele a ronronar-me no peito. Não estou em casa, essa está mais do que vigiada pela polícia. Neste momento a minha residência é emprestada. Os donos possivelmente estão de férias e eu fiz o meu "check-in" há alguns dias. É óbvio que não posso ficar aqui durante muito tempo mas também não é fácil sair à procura de novas instalações. Estas agradam-me porque até tenho direito a uma arrecadação óptima. Ficou com muito espaço depois de eu ter despachado tudo o que lá encontrei e que tivesse valor comercial. O Joaquim também gosta da casa, principalmente do chão que é bastante escorregadio. As suas manobras nas curvas, as suas corridas e posições felinas são um aconchego que sinto na alma. Não há nada que eu mais goste do que chegar a casa, depois de um cansativo dia de trabalho, e ver a minha criança olhar para mim.
Vou fazendo zapping pelos canais de televisão, uma televisão mínima e muito ranhosa que trouxe da cozinha. A que estava na sala já foi despachada, o mesmo aconteceu à aparelhagem, aos CD e DVD originais que encontrei. E o facto de estar sentado num sofá em pele a ver televisão numa televisão ranhosa – que não despachei – fez-me pensar no ataque da globalização ao negócio dos assaltos.
A televisão falava em tumultos, violência e agressões de alguns milhares de manifestantes num desses encontros dos países mais ricos do mundo. Estes manifestantes, jovens, levantam cartazes da mesma forma que arremessam pedras. É uma intifada ocidental contra a globalização. Também eu, naquele instante tornei-me um acérrimo defensor das lutas contra a globalização. Este movimento dos países mais ricos é um atentado contra o meu negócio.
Eu ainda sou do tempo em que as marcas tinham valor. Hoje, por causa da globalização, surgem marcas coreanas, chinesas, tailandesas, cipriotas a cada minuto que passa. Televisões de marca que valiam fortunas agora não valem nada. Uma pessoa entra em casa de alguém que se supõe ter dinheiro e dá de caras com uma televisão enorme mas com uma marca mais difícil de pronunciar que “Vladivostok”. E quem é que compra uma televisão com um nome de um coreano? Ninguém. Quem é que compra um DVD gamado que se for à loja custa-lhe dois pacotes de bolachas? Ninguém. Até os CD e DVD sofreram uma deflação desde que o mercado ficou entupido com produtos contrafeitos. A culpa é da globalização que tornou alguns dos objectos mais apetecíveis em objectos vulgares e sem valor. E dou por mim a comprar revistas de tecnologia para saber o que está a dar. Descubro consolas, projectores, leitores de mp3 e home cinemas. Por um lado são mais maneirinhos de gamar por outro lado é preciso estar sempre a baixar o preço porque a concorrência das lojas é muito forte. São promoções, pontos, devoluções, etc. Este negócio não está fácil. Por isso, o meu problema foi ter mudado para a droga. A minha mãe dizia: “o problema das drogas não está no vício, está na ressaca.”. Eu descobri que as drogas trazem muitos outros problemas.

Tendência para a parvoíce

Cientistas norte-americanos identificaram novos genes que contribuem para o consumo excessivo de álcool. Este é o resultado publicado recentemente pela revista Proceedings of the National Academy of Sciences. A investigação, feita com ratinhos que mostraram uma preferência inata por álcool, poderá dar importantes pistas sobre os mecanismos moleculares que promovem a tendência para o alcoolismo. É por estas e por outras que eu sou contra a utilização de animais em testes. Com que direiro é que eles têm direito a bebida à borla?

Picanha ou Maminha, senhor?

Vinha hoje à pendura no eléctrico, no 18 que vai até à Praça da Figueira, quando reparei na capa do Diário das Notícias. E fiquei estarrecido, Então não é que as autarquias vão começar a legalizar os brasileiros? Não seria melhor ideia começar a ilegalizar os autarcas?
Agora é que é. Foda-se. Saimos já da União Europeia e queremos aderir ao Mercosul. Já não há volta a dar. Mudem o nome ao país. Portugal deixa de existir para dar lugar a um espaço geográfico que pode vir a ter o nome de Iguaçú de Cima ou Xeripéteté de Xiricuaia. E já agora mudem a capital para Felgueiras, dêem a Presidência do Estado à Fatinha Felgueiras, o Valentim Loureiro no Conselho de Arbitragem,o Isaltino na Administração e Ordenamento do território que o tipo é bom nas obras e o Avelino Ferreira Torres na secção dos enchidos. Já estou a ver que a primeira medida deste tropa fadanga é foderem-me o Rendimento Mínimo que eu recebo transformando-o em vales de refeição para descontar em picanha, maminha ou capim.
Mas o Brasil tem coisas boas. Tem aquela carnucha quentinha que quanto mais se come mais apetite se ganha. É uma carne crua e que está sempre aos saltos: a xereca. E, minha nossa, como vai tão bem com um nabo!

quarta-feira, agosto 09, 2006

Agonia Bonita. Jogas?

Depois da Nike ter criado o Joga Bonito, encontrei na net algo do mesmo calibre mas bem mais interessante. É a Agonia Bonita, ou “Beautiful Agony” em inglês. E mais do que o futebol, é um site com filmes que apenas revela a cara das pessoas a praticarem o desporto mais praticado no mundo: a masturbação. Não se preocupem que o site é bem limpinho. Para o visitarem já sabem: usem os dedinhos e cliquem.

www.beautifulagony.com


PS- Alguns filmes deste site estão disponíveis também no YouTube.

terça-feira, agosto 08, 2006

Silly season

Que merda de temporada. Ou é o Hezbolah ou os incêndios. O que eu sinto falta de um serial killer de uma localidade perdida do país ou de uma madrasta que espanca bébés com o pau de um ancinho e com a ajuda de um sobrinho deficiente. Assim sim, é que ninguém me tira de frente da televisão.

segunda-feira, agosto 07, 2006

Portugal caga um tuga a cada 13 minutos

A prova de que neste país, só sai merda. Segundo o INE, o país ganha um residente novo a cada 13 minutos. Mas a encabeçar este top continuam os deputados da Assembleia, com a média de uma cagada a cada segundo que abrem a boca.

Gajas

Eu gosto de gajas. Portanto essa merda de me chamarem paneleiro só porque apanho o 38 para o Hospital de Santa Maria não me afecta um bocadinho. Vou porque tenho um programa da Metadona a decorrer e nestas merdas mais vale dar o dinheiro do rendimento Mínimo à velhota do que gastar tudo em cavalo. Até porque já tenho os dentes de baixo corcumidos. Mas estava eu a falar de gajas. Ah...gajas, como eu gosto de gajas. Não percebo qual é o interesse de um tipo gostar de chupar caralhos ou servir de mealheiro para o chouriço de outro tipo. Ainda percebo essa merda dos cremes da cara, do fio dental para palitar os dentes, dos after-shaves e dessas paneleirices mas não percebo porque é que no pacote tem que vir a questão de se levar na marmita.

Fiz do meu irmão mais novo, um homem. Cresceu comigo, ensinei-lhe tudo o que sabia: ligações directas, a não deixar marcas nas gajas quando é preciso arrear, a não deixar vestígios quando fazes serviços nas casas, a tirar latas e chocolates à borla nas máquinas de venda e principalmente como fazer um bom ovo cozido, daqueles em que fica cozidinho por fora e molinho na gema.
Mas desde que está na choldra que mais parece um menino. Antigamente pedia-me cigarros, ultimamente pede limas.
-Limas? Queres serrar as grades?
-Não, oh pá, que estúpido, claro que não. Quero limas para as unhas.
-Foda-se, não vejo aqui moscas a voar. Que merda é essa de estares a agitar as mãos no ar?
-Estão horríveis, não estão? Por isso é que que quero umas limas.
-Foda-se, paneleiro do caralho.
.....silêncio....
-Ouve lá, estás a levar na mamita?
-Que horrível que tu és! Insensível. Não é marmita, é amor!
....silêncio...
-Paneleiro do caralho!

Mas foda-se, é irmão. E é do meu sangue. Quer dizer, o dele já deve estar todo contaminado com aquelas merdas que os bichonas apanham nas tampas das sanitas. Mas a sério que não percebo porque é que um gajo não há-de gostar de gajas. Porque são de um paradoxo tão grande que num momento estás a chupar-lhes as virilhas e num outro a ler-lhes poemas apaixonados. E a isto um gajo não se faz.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Kornada

Odeio metalicos da mesma forma que nao suporto soldaduras e aluminios. Ou seja, odeio metal em todas as suas versões. Lembro-me que até dei uma tareia ao meu irmao mais novo – um abraço ao Quim que eu sei que lês estas merdas na choldra – quando me apareceu em casa com um disco dos Scorpions e queimei-lhe o braço com um ferro em brasa quando fez a mesma merda com o disco dos Europe.
Mas pior que ouvir metalada é ouvir aquelas merdas pastosas que os cabrões tocam que mais parecem canções do Nel Monteiro, quando começam a ganir, a cantar como Farinellis, foda-se que merda é aquela?
Metalada a sério é ouvir os Korn. Porque uma pessoa sabe que para além de ouvir barulho, de andar no mosh e a arrncar cabelos pela raíz ainda consegue arranjar merda e cenas de porrada como aquela aconteceu recentemente num concerto dos Korn em Detroit.
A malta estava no mosh, a tentar arrancar rótulas com os dentes quando um gajo armado em menino sugeriu que eles parassem com aquilo porque a namorada estava grávida e eles podiam aleijá-la. Foda-se! Mas qual é o caralho que leva a namorada grávida para um concerto dos Korn? Mas estava à espera de um bailarico do Grupo Recreativo e Desportivo da Ameijôa-de-Cima? O que é que se faz a um tipo destes? Faz-se o que se fez: dá-se um enxerto de porrada e mata-se o tipo ali à frente do puto que não vai ver a fronha do pai. Por isso é que se eu um dia tiver filhos, não entram em concertos de metalada. Ainda se arrisca a conhecer cretinos como este.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Morre cabrao!

Ha pouco estive a ver nas noticias algo que me deixou em estado catatonico, ou pelo menos um bocadinho chocado. Parece que andam a fazer pressao para que o Harry Potter nao morra no ultimo livro, algo que a bifalhona que escreve aquela merda, ja tinha dito que iria fazer. Ca por mim e obvio que o puto ja deveria ter morrido. Puto que segura um pau na mao, chama-lhe varinha, brinca aos feiticeiros, agita os pulsos como uma bailarina, que voa em cima de um pau grande e que nem utiliza a bruxaria para ver a vagina das gajas ou para por o Benfica a ganhar jogos, so pode ser paneleiro.
A bifa que mate ja o caralho do puto no proximo livro antes que o mal alastre-se como a mosca da fruta. Ate dou uma boa sugestao. Ja que ele gosta tanto de voar na sua vassourinha podia ter um acidente de aviacao, tipo atrapalhar-se em pleno voo e chocar de frente com uma gaivota de 5 cabecas e morrer por "empalamento aereo". Isso sim e que deveria ser um serio aviso para as aves raras que gostam tanto de abafar a varinha.

terça-feira, agosto 01, 2006

Quem sou eu?

Sou um mitra. Ja fui drogado e agora só sou agarrado ao Rendimento Mínimo. À conta da minha velhota consegui comprar um portátil no Lidl. Não pago renda de casa porque se a velhota já o faz não percebo porque haveria de pagar outra vez, então gastei tudo na ligação da net. Porque é que fiz um blog? Porque todos têm um e ouvi dizer que havia gajedo por perto. Como dize um amigo meu, "as vacas têm de saber onde é que a fonte para irem buber!". Eu diria que a fonte brota directamente desta página a partir de hoje. Venham beber, venham.